quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Rejane Machado

Memórias (Rejane Machado)
 
Aos dez anos a primeira página. Uma redação escolar, muito valorizada por uma professora primária, uma mulher sensível, cujo nome não guardei. Só a tratava por Atalita, que era o seu prenome.
E não me lembro , absolutamente, da sua figura física. Parece-me que tinha a voz doce, os modos calmos- reconstituo alguns dos seus traços de modo indireto, a partir das recordações pessoais de minha mãe, que com ela trocou palavras dedicadas á aluna aplicada, que tinha jeito para escrever. Mas no verso da composição a sua letra bonita e firme deixou-me um recado, que no momento não foi de modo algum levado em conta, mas que funcionaria, mais tarde- porque tudo tem o seu tempo- quando uma indigesta predisposição a um estado depressivo ameaçava um coração machucado.
(...)
Comecei assim, mandando pelos Correios este primeiro conto, que foi publicado num dia do ano 1968, pelo qual recebi, também pela mesma via, um cheque do qual não me lembro o valor- o que não teve menor importância, senão pelo que representou : colocar-me num grande jornal, ao lado de “cobras”, iniciando um período de colaborações que se estendeu por muitos anos, a outros importantes veículos de comunicação: Leitura, Bancário, A Cigarra, Convívio, Ficção (revistas), Correio da Manhã, Jornal de Letras, Jornal do Brasil, onde mais tarde, sob a batuta do saudoso Lago Burnett, estacionei por longo tempo, fazendo agora somente crítica literária,
alavancando autores estreantes, entre eles José Mauro de Vasconcelos (Meu pé de laranja lima), Rubem Fonseca (A coleira do cão), Caio de Freitas (Um canal separa o mundo)- e muitos outros que me mandavam seus livros.Data daí a minha amizade com Francisco Miguel de Moura, poeta de Teresina, Armindo Trevisan, de Porto Alegre e Carlos Nejar, também do Rio Grande, Nélida Piñon, Stella Leonardos, Waldemar Lopes, Ricardo Hofmann, de Santa Catarina,meu Deus, quanta gente.
(...)
O mais importante disso tudo, talvez, é ser uma pessoa que rejeita a amargura, que diz Não! á depressão, ao pessimismo, à infelicidade. Porque dificuldades fazem parte da trajetória humana, carências, decepções; ninguém está a salvo dessas surpresas desagradáveis, Mas quando se coloca na balança os prós e os contras, vê-se que sempre temos muito a agradecer. Tudo o que não foi bom se transformou numa argamassa sobre a qual construímos uma fortaleza.
E quase ao final da estrada, a vida ainda tem alegrias a oferecer.
Amo de paixão aos meus netos, tão intelifentes e bonitos, de quem tive a honra de cuidar pessoalmente, de ajudar na sua criação, de estimular as suas potencialidades. Tenho orgulho de meus filhos,dois  engenheiros, um agrônomo, ambientalista, que é apaixonado pela Natureza, outro engenheiro civil-Professor Pardal que tem solução para tudo. Por minha filha, também, tão corajosa, que há pouco terminou sua 5ºFaculdade, desta vez Direito, como o pai.Todos muito ligados à Música, excelente herança que meu pai Maestro nos legou, e à Poesia, que minha sensível mãe tanto cultivou. E noras tão amigas, e genros e genros-netos tão meigos! Sem falar na graça infinita de Luan e Maria Renata, tão vivos, tão lindos e inteligentes. Luan, que lê aos 5 anos adora  ouvir "música de maestro", Renata vai aprender, também, com certeza.Tenho ainda muito papel rabiscado para publicar....
 
Rejane Machado
(Trecho do livro Memórias, em final de organização)

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